terça-feira, 28 de abril de 2015

Sob o olhar de Fellini


Fellini, observando o movimento (Foto de João Lombardo)

Jantei no Pettirosso, um pequeno restaurante na Alameda Lorena, em São Paulo. Provei receitas clássicas da cozinha romana e pratos com viés contemporâneo elaborados com ingredientes típicos da culinária romana. Tudo estava muito saboroso, pratos bem apresentados, sabores equilibrados. O serviço correto, equipe simpática, uma boa carta de vinhos. Uma casa chefiada pelo italiano Marco Renzetti.

O ambiente do Pettirosso é despojadamente elegante. Um salão decorado com móveis e fotografias antigas, ao estilo das trattorie familiares. No andar superior, ambientes particulares. Uma espécie de área reservada, com paredes, cadeiras e copos vermelhos sobre as mesas. Nas paredes, fotos de Sophia Loren e Fellini. Um clima que remete à Roma dos anos 1950/60.

Comecei pelo couvert: pão italiano, azeitonas temperadas com uma sutil nota cítrica, manteiga com anchovas, patê de fígado. Para a entrada, escolhi Salumeira Artigianale, um combinado de lombo, pancetta e guanciale, este último, uma espécie de bacon não defumado feito com bochecha suína, difícil de se encontrar no Brasil. O guanciale estava suave, com uma sutil tendência doce; o lombo agradavelmente sápido e a pancetta, intensa e saborosa. Comi com pão. Fiquei tentado a regar azeite. O delicioso sabor original dos fiambres, no entanto, mostrou-me ser dispensável qualquer condimento adicional.

Guanciale, lombo e pancetta, o triunvirato do sabor (foto de João Lombardo)

Cheguei a pensar em pedir Panino com la Porchetta, um dos dez antepastos oferecidos pela casa. A porchetta, como diz o próprio restaurante, é uma instituição na capital italiana. Ela brilha nas vitrines de lanchonetes e restaurantes romanos. E em meio às fatias de pão. Salivei por ela, mas ficou para a próxima.

Na hora de escolher o prato principal, outra dúvida. Atento aos onze primi piatti e cinco sencondi, parei num clássico: Coda alla Vaccinara, a rabada bovina típica romana. A receita original leva vinho tinto e chocolate amargo, ingredientes utilizados por Renzetti no Pettirosso. Pensei em pedi-la. Mas cabei aceitando a sugestão de Erika Andrade, esposa do chef e gerente de atendimento da casa. Ela sugeriu uma massa com moldura contemporânea, o Penne alla Vodka e Burrata “Alessandro”. Resolvi provar um prato contemporâneo de Renzetti.

Penne alla Vodka e Burrata "Alessandro" (foto de João Lombardo)

O preparo veio numa temperatura excelente. As penas ou penne estavam envolvidas por um untuoso molho de tomates, com uma sutil nota de pimenta vermelha. Molho saboroso, sem acidez excessiva, sal bem dosado. No centro do prato, como uma coroa, a burrata, o amanteigado queijo de búfala italiano. Ele atribui uma delicada nota láctea ao conjunto. Os sabores mostraram-se equilibrados, bem conjugados. E o prato foi bem acompanhado por um vinho de corte à base de Sangiovese e Merlot.

 A diva do cinema italiano, à mesa (foto de João Lombardo)

Não consegui chegar à sobremesa. Estava satisfeito.

De volta ao andar superior, dei uma última espiada no ambiente. Numa das salas, uma mesa redonda, com 12 lugares, diante de uma foto em preto e branco de Sophia Loren à mesa. Na sala contígua, mesas para quatro pessoas e uma foto de Federico Fellini. Detive-me. Que fascinante poder jantar num restaurante romano, em São Paulo, guardado pelo olhar penetrante do inquieto Fellini. “Dolce Vita”!

Serviço:

Pettirosso Ristorante
Alameda Lorena, 2155
Fones: (11) 3062-5338
                   3062-4531
São Paulo - SP

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